terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Num Dia Excessivamente Nítido



Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.
Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas idéias.
A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.
Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.


Alberto Caeiro.

3 comentários:

Ígor Andrade disse...

Precisava ler isso hoje!

Abraço!

Pequena Poetiza disse...

o encanto de caieiro me encanta sempre e sempre
mais um gosto que nos encontra e nos aproxima


é quando não se procura qu se encontra
mais ou menos essa a filosofia que passou pra mim


bjos querida amiga

Pequena Poetiza disse...

amiga quero ver-te voltar a escrever...

beijos