sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sr. Esperto em: O Desespero

Quem nunca deu um deslize num desespero financeiro, ou quem nunca teve essa vontade?

Ficar sem dinheiro é algo, meio desesperador, principalmente se somos dependentes da boa vida.

Essa era então a maior dependência do Sr Esperto, ter boa vida, ou pelo menos aparentar ter. Ter uma vida boemia de luxo, dar bons presentes, andar com o tênis de marca, andar de taxi e pegar o melhor ônibus, o mais caro, pra ir a sua cidade natal, a Aldeia. Nenhum problema em ter esses desejos, o problema é não ter a verba suficiente pra ter e mesmo assim ostentar o que não pode.

O Sr. Esperto há um tempo tinha morado com um, dizia ele amigo, bem mais novo do que ele, o Claus que tinha 22 anos.
Claus era um estudante de direito, filho de um Policial Militar, e de uma Dona de Casa, o que fazia o Claus ter a vida e o dinheiro que o Sr. Esperto sempre quis mas nunca teve.
Como dividiram o mesmo teto, o Claus tinha suas contas de celular e do banco que mensalmente chagavam pelo correio.
Mas o tempo passou e Claus numa melhor oportunidade se mudou, ficando apenas o Sr. Esperto a morar naquele apartamento de frente pro mar.
Mas infelizmente o dinheiro era pouco, o que tinha era pra pagar o apartamento e comprar comida.
Sr.Esperto tinha sua filha, que como toda criança lhe pedia presentes e tinha vontade de divertimentos super naturais de sua idade, porém muito longe do que seu pai, o Sr. Esperto, poderia lhe dar. Como mudar essa realidade?
Sr. Esperto dava lá suas aulas particulares, tentava outros empregos mas não conseguia. Nada no momento era possível pra mudar essa realidade.
Então continuava ele como podia com isso seu nome ficou sujo, seu cartão do banco já estava no vermelho, realmente não tinha de onde tirar e nem o que fazer.
Já acostumado com essa dura situação, Sr. Esperto nada fez, até porque, não tinha nada pra se fazer mesmo..
Em mais um dia de sua rotina diária, voltando de uma de suas aulas, passou e pegou todas as correspondências. Chegando, em casa colocou-as na mesa e foi vendo uma por uma, como de costume.
Ainda que seu amigo Claus tivesse mudado, algumas desavisadas empresas, como por exemplo, o banco que Claus tinha conta, continuava insistentemente a enviar correspondência pro antigo endereço.
Então lá estava mais uma conta pra Claus Bitran Silva Neto.
O Sr. Esperto como de costume, abriu certificando-se de que não era nada de mais, pra poder encaminhar ao lixo ou pra poder entregar ao próprio Claus, caso uma importante correspondência fosse.
Então abriu leu o que estava escrito:
“O Banco Taí, o convida, pra reabrir o seu Taí Card. Com o Taí  Card você tem a sua disposição um pacote de serviços com transações ilimitadas. Ao abrir sua conta você receberá um único cartão de débito e crédito, pra usar no Brasil e no Exterior.”
“Sendo Cliente antigo, para reabrir basta ligar pro 0800 262 2422, e fornecer ao nosso atendente seu CPF pra que possa ser feita a confirmação de dados e em no máximo 10 dias o cartão chegará a sua residência.”


Ao ler, o Sr. Esperto fez uma enorme viagem ao tempo.
Quando dividiram o apartamento, eles tinham uma TV por assinatura que estava no nome do Claus, por que já nessa época o nome do Sr. Esperto estava sujo.
E como essa TV por assinatura, como qualquer TV a cabo volta e meia estava fora do ar, tinham eles que ligar pra central, pra pegar informações sobre a falta de sinal. Só que isso só podia ser feito através do nome e da confirmação completa de dados do titular, incluindo ou talvez sendo o principal, o CPF.
Como nem sempre Claus estava em casa até mesmo por conta da faculdade e do trabalho, ele anotou e deixou pro Sr. Esperto o seu CPF, caso a TV desse algum problema.

Ao fazer essa viagem ao tempo Sr esperto muito do esperto, pensou logo que só podia ser algo divino mesmo, sua salvação ou pelo menos uma parte dela estava ali.

Ele tinha o CPF do Claus, podia muito facilmente se passar por ele e ter o cartão de créditos em suas mãos, já que a reabertura poderia ser feita pelo telefone.

Nem tinha feito ainda a transação e o “rolicinho” já pulava alegremente pela casa, imaginando tudo que podia fazer e principalmente toda felicidade que podia dar a sua filha.
Era muita coisa de Deus, isso aconteceu em Março e o aniversário de sua princesa era em Abril, o que lhe preocupava um tanto, seria o primeiro ano que não poderia contribuir em nada pra festinha de 5 anos de sua filha.
Com o Cartão de crédito tudo estava feito. Entusiasmado já passou a mão no telefone e ligou pra sua ex-mulher dizendo que poderia ajudar, perguntando quanto seria, e principalmente falando com sua filha e perguntando o que ela gostaria de ganhar.
Logo depois passou a mão no telefone de novo ligou pro Banco, se passando  por Claus e fez a confirmação de dados do Claus Bitran Silva Neto.
Tudo feito tudo certo, agora era só esperar o cartão que chegaria em alguns dias.
Isso tudo claro, sem Claus saber. Quando pensava nisso dava um friozinho na barriga do Sr. Esperto, mas dias depois, o cartão chegou e correu tudo bem.

Ele fez o aniversario de 5 anos de sua amada filha que foi do desenho Backyardigans, comprou a Barbie bailarina, foi tudo lindo.
Pode comprar uma roupa nova pra ele mesmo e dois tênis novos. Na tão esperada festa seus olhos brilhavam de alegria, ao ver sua filha feliz brincando com as amigas se divertindo no aniversário que tanto queria. Mostrando o presente a todas as amigas, tinha brigadeiro, bolo de dois andares todo de chocolate e com o desenho dos Backyardigans. A mesa que estava cheia de brigadeiros, estava cheia também de doces como pirulitos, balas e jujubas, e atrás havia um painel enorme dos Backyardigans.

Depois que pode dar a festa a sua filha, o que mais lhe dava frio na barriga, que era o fato do seu amigo Claus descobrir, não lhe dava mais. O que poderia acontecer? Afinal de contas ele estava pagando tudo certo, em dia, não havia mais nada de mais nisso.
Então assim seguiu por quase um ano comprando e indo onde queria ir. Tendo sua boemia, indo a festas, bajulando sua filha.
Durante esse tempo a vida do Sr. Esperto que já havia dando uma aliviada por conta desse cartão, ficou ainda melhor, pois agora ia dividir o apartamento com outros amigos o Luca e a Suzana. Assim as despesas do apartamento diminuíram, o que o fazia ter ainda mais pra gastar.
Saia com seus companheiros de casa, e sempre que podia, ele mesmo gentilmente pagava rodadas de cervejas e restaurantes.
Mas como o Luca, Claus e o Sr. Esperto eram todos da Aldeia, todos três se conheciam. Sendo assim Claus também era amigo de Luca e até mais do que o Sr. Esperto pelo simples fato de terem a mesma idade.
Como moravam no mesmo lugar, sempre sabiam e viam as contas um do outro quando chegava.
Luca começou a perceber que chegava conta no nome de Claus, e que o Sr. Esperto que abria e pagava.
Luca achou estranho, mas logo a estranheza passou e pensou que poderia ser uma combinação entre os dois já que eles eram amigos.
Então nunca se meteu e deixou pra lá.
Depois de um tempo e por um desentendimento entre Luca e o Sr. Esperto o que rendeu até a saída do Luca do apartamento.
Luca com uma raiva tremenda de umas atitudes do Sr. Esperto, resolveu contar a Claus sobre o cartão, mesmo correndo o risco de que ele já fosse ciente da situação do seu cartão e que fosse uma combinação entre ele e o Sr. Esperto.
Luca contou então essa esperteza do Sr. Esperto, pra Claus. E pra sua surpresa, ele não sabia de nada, e caiu do cavalo com tamanha falta de caráter de uma pessoa que considerava tanto.
Claus pensou durante dois meses no que faria que decisão tomaria.
Sua primeira vontade foi de literalmente acabar com o Sr. Esperto.
Como podia ele, onde estava a confiança que ele tanto lhe depositara, o amigo que ele sempre foi ao Sr. Esperto.
Eram muitas dúvidas, no que fazer como reagir o que falar, ou se esperarava pra ver no que ia dar.
Com tantas questões esses dois meses se passaram, e na vida de Claus estava tudo meio confuso principalmente em relação a um cara que ele considerava grande amigo.
 Já a vida do Sr. Esperto estava super lúcida, estava ele com um novo amor e ainda estava morando com sua amada, a Flor, ele estava nas nuvens.
Cada um vivendo a sua vida, mesmo assim durante esse dois meses, o Claus continuou tendo contato, através de e-mail com o Sr. Esperto.
Mesmo sabendo de tudo e com aquela dor da traição o Claus continuava frio, pensando calmamente no que ia fazer com tal situação. Até mesmo pra não tomar uma atitude precipitada.
Resolveu então em apenas conversar e ouvir o que o seu amigo o Sr Esperto tinha a lhe dizer.
Tomou coragem e após muita água ter rolado, ligou para o Sr. Esperto, que o convidou a ir visita-lo na sua nova casa.
Chegando lá elogiou a casa, que agora após toques femininos, estava realmente com cara de casa.
Sentou-se no sofá amarelo de dois lugares, o Sr. Esperto de um lado ele de outro, e  a Flor, mulher do Sr. Esperto, sentada á mesa de jantar, jantando.

-Claus: Pô cara sabe o que é, soube aí que tu fez um cartão de crédito no meu nome e tá usando. Eu sei que é verdade, olhei no banco fui logo vendo se tinha alguma divida no meu nome, se meu nome estava sujo. Mas vi que você pagou tudo certo, mas que história é essa, moleque?
Pô sempre te deu mô confiança sempre te dei moral, nunca esperava essa pelas costas, tô muito chateado contigo.

_ Sr. Esperto:  Claus eu nem tenho que falar foi um ato de desespero, estava muito mal de grana eu sabia seu CPF por já termos morado juntos e chegou aqui uma solicitação pra uma nova abertura de conta e eu fiz sem pensar, mas eu estou pagando tudo em dia.
Jamais sujaria seu nome, sei que mesmo assim estou muito errado, peço desculpas, se eu tivesse no seu lugar não sei se te desculparia então se você não quiser me desculpar vou entender.

- Claus: Pô moleque tu vacilou feio comigo, eu já estou sabendo disso há dois meses, pensei muito no que fazer, pensei até em te processar, tenho tudo lá no meu estágio pra isso, eu trabalho com isso. Só não fiz isso por que pensei muito na sua filha, cara eu não tenho confiança mais nenhuma em você, e toda confiança que eu tinha em você pra onde foi cara?

- Sr Esperto: Eu não tenho realmente o que falar a Flor quando soube já falou no meu ouvido e brigou muito comigo, pra que eu acabasse com esse cartão, se não ela mesmo contaria a você, mas eu realmente só estava esperando acabar as prestações de um tênis que comprei, pra poder acabar com seu cartão.

-Claus: Não tem desculpa cara foi uma confiança jogada fora, já pensei em vir aqui e te meter logo a porrada, mas algo me fez ficar esse tempo pensando, porque de cabeça quente sei que não iria resolver nada, por isso deixei o tempo passar e ver como poderia fazer e o que ia fazer,  vi que a melhor coisa era vir aqui e conversar com você.
 Mas na boa eu não confio mais em você.

- Sr Esperto: Você tem total razão eu no seu lugar faria o mesmo ou nem conversaria já ia partir logo pra agressão, só tenho a te agradecer por você ter vindo aqui e ter tido essa atitude, posso te garantir que nunca mais irá acontecer.

- Claus: Beleza cara, mas eu não acredito nem confio mais em você pra nada. Quando terminar de pagar, por favor, acabe com meu cartão.
Valeu Moleque té mais.


Claus se foi muito ferido e chateado, perder a confiança numa pessoa em que confiava tanto, ser traído daquela forma o doía e muito, mas mesmo estando muito chateado ele não deixou dor tomar conta.
 E mesmo tendo apenas 22 anos, agiu como um homem dá idade do Sr. Espero que estava com seus 34 anos. 
Os papeis foram trocados e um coração machucado, mas isso não abalou muito o Sr. Esperto.
Ele foi tomado por uma vergonha que nunca imaginou sentir e que prometeu a si mesmo não sentir e nem passar por isso nunca mais, porque daquele dia em diante prometeu mudar.
Quem iria acreditar?
Mas meses depois foi o que fez , pagou as ultimas prestações e ligou aliviado para o banco, cancelando a conta.
Passou a viver o real e a tentar conviver com algumas dificuldades.
E naquele momento ele tinha a Flor que estava ao lado dele numa cumplicidade linda a lhe ajudar lhe apoiar e a o amar.
Isso sim foi algo divino.
Sr. Esperto passou a viver mais tranquilamente dando suas aulas e procurando ainda mais outras alternativas e agora estas mais honestas, pra melhorar sua renda. E assim conseguiu aumentar suas aulas e a ganhar não muito, mais um pouco mais do que ganhava, fazendo algo que era verdadeiramente seu.


Bárbara Mariana 11/02/2011


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