sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sr. Esperto em: A Noite

Sr, Esperto é um Sr. muito pomposo, cheio dele mesmo, com muita lábia.
Roliço bem roliço sem pescoço, um Sr. muito compacto. E talvez isso que o fizesse prometer coisas que futuramente não seriam cumpridas, talvez por isso “zoa” e abusa tanto das pessoas.
Afinal de contas a vida com ele nunca foi muito justa, desfavorecido pela natureza, a beleza passa bem longe dele, estava sempre por baixo. A auto-estima baixa, o fato de nunca ter conseguido nada na vida, de ter tido muitas oportunidades e conseguir perder todas elas, estudar fora do país, fazer faculdade e nenhuma delas aproveitou.
Apesar disso, sua vida foi sempre muito animada, morava em uma cidade super pequena de maios ou menos 45 mil habitantes. Então como todo desfavorecido pelo peso e beleza ele sempre soube se virar, sendo um rapaz que falava sempre  o que vinha na cabeça, sem se preocupar com o que iam achar ou mesmo se as pessoas iam se machucar, isso numa cidade pequena, o fazia seguro e popular. 
Mas por conta da vida ele o Senhor O Esperto mudou-se pra uma cidade muito maior do que a sua, além de ser um novo habitante a cidade era enorme e o engolia. Ninguém o via, ninguém o percebia, era mais um naquela enorme metrópole. O que o doía ainda mais, pq dessa vez mesmo ele tendo excesso de peso e de feiúra a cidade não o notava, e falar o que pensava pra quem? Se ninguém o conhecia, se ele não conhecia ninguém.
Graças ao destino alguns conhecidos da de sua aldeia natal migravam pra cidade, sendo eles poucos de lá, se uniam pra terem mais força pra enfrentar aquilo que poderia a qualquer momento os engolir.
Assim morou com um velho amigo, depois com  um outro grande amigo, e por bondade do destino pode dividir apartamento com um casal de namorados, o rapaz que  se chama Luca e a namorada Suzana. Luca tb era um “aldeinhesse” , obviamente que com essa oportunidade a amizade que não existia entre Luca e Sr. Esperto, só fez aumentar.
Sempre que dava saiam juntos, Luca sua namorada Suzana e o amigo o Sr. Esperto.
Era a oportunidade que faltava pro Sr. Esperto se sentir de volta ao comando, podendo assim ser notado fosse com suas palhaçadas ou alfinetadas. 
 Varias oportunidades foram surgindo e o Sr. Esperto com sua esperteza espetacular não perdeu nenhuma delas e sempre que podia , machucava mesmo que sutilmente, essas pessoas tão legais que aceitaram dividir o mesmo lar que ele . Alfinetar além de ser um estilo de vida que o Sr. Esperto havia encontrado, era  tb uma maneira de se manter sempre perto e com as lembranças sempre presentes de sua terrinha. Mas ele andava muito cansado, pois mesmo que pudesse alfinetar, ele continuava sem nenhuma notoriedade sempre sem ninguém, nenhuma namorada ou se quer “ficante” ou alguém que lhe quisesse. As dores estavam cada vez mais fortes, mas Sr. Esperto apesar de nunca  ter deixado isso transparecer, fazer graça, já não tinha tanta graça e como alfinetar, mal haviam começado a morarar juntos ele não podia ser tão grosso.
Mas a vida é uma caixinha de surpresa e chegou então um dia que ficaria marcado pra sempre, era a oportunidade que faltava pro Sr. Esperto ser mesmo o Sr. Super Esperto.
Numa bela sexta feira que antecipava um  lindo final de semana, resolveram os três amigos sair pra beber e curtir  a boemia sexta carioca na Lapa.
Chegaram e como sexta é um dia que todos ficam boemiamente nas ruas embaixo dos arcos, bebendo e conversando com os amigos, foi o que fizeram. Tudo corria bem muita conversa risadas e os dois, agora grande amigos, se revezavam pra comprar cerveja, uma hora ia o Luca outra hora ia o Sr. Esperto e assim a noite foi indo lindamente com sua lua cheia e céu estrelado. Quando a Suzana namorada do Luca justamente na vez do Luca ter ido comprar a cerveja, começou a ficar  incomodada com alguns homens que a olhavam.
Suzana era uma mulher muito bonita que chamava muito atenção pela altura e cor dos olhos. Típica brasileira tinha um corpo torneado, bustos fartos, cabelos encaracolados preto com algumas mechas loiras, lábios carnudos e pernas grossas. Vestia-se sempre de maneira que pudesse valorizar toda sua beleza. Então usava muito mini saias, vestidinhos de verão, calças justas e blusas decotadas. O que não faltava na vida dessa mulher, era homem, sempre cercada de grandes amantes, tinha ela um namorado que nem sempre a tratava como a beleza dela merecia. Nessa ocasião, estava Suzana  vestida com um macacão rosa curtinho, e um salto alto. Não precisava de muito, pros os homens a olharem, mas sempre quando se arrumava a sua beleza ficava ainda mais em evidencia e obviamente o numero de homens que a olhavam só aumentava.
Com isso Suzana que estava num lugar onde a Boemia Carioca acontece, na nossa querida e diversificada Lapa, parada conversando com seu amigo Sr. Esperto enquanto aguardava seu namorado chegar, e se incomodou da forma que um grupinho masculino a olhava e então desabafou com o SR. Super Esperto
  - Suzana: Nossa não sei pq  esses caras não param de me olhar, to ficando com raiva já
 - Sr. Esperto: Mas é claro vc está parecendo, um homem vestido de mulher, com essa roupa, é obvio que eles vão olhar.
Com essa linda animada  resposta , uma tremenda vergonha e dor tomou conta do coração de Suzana, que pensou:
  - Como pode um homem desses feio gordo e nojento, falar assim de mim?

Aquela noite linda, pra suzana passou ser uma noite de muita dor, por mais linda que fosse e atenção chamasse, aquela alfinetada doeu e a machucou, o que a fez ir embora chorando e passar a noite aos prantos.

Pois é minha cara Suzana, às vezes a vida é tão injusta com a gente, que não há nada melhor do que, ferir os outros pra nos defender.

E claro que depois de uma dessa o que passou a  acontecer e que a ausência de beleza do Sr. Super Esperto tb ficou ainda mais evidente, Suzana a partir daí fazia questão de mostrar a ele o quão defavorecido de beleza, o quão e horroroso ele é.

Mas Sr. Esperto não admite perdas, então pra compensar o que era dito sobre sua feiúra, sempre ria e entrava nas brincadeiras, admitindo assim sua falta de beleza.
Mas a noite esse homem, compacto, forte, engraçado, e dito superior, deitava na sua cama e ao seu travesseiro abraçado no desespero de uma dor que terá que suportar a vida inteira, ele brincava mas aquilo lhe doía e só a noite quando todo o mundo nem estava a lembrar que ele existia, todos egoístamente voltados pra seus sonhos e os  afazeres do próximo dia, ele sozinho no canto, no quarto dele, chorava bem baixinho pra que ninguém pudesse ouvir e ver a dor que ele sentida.


Bárbara Mariana 14/11/2011

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